sexta-feira, 9 de julho de 2021

 

Empatia

O nome dele é R.C. Posso falar sobre o ocorrido aqui, porque duvido que você o conheça, embora haja a teoria de que todo mundo está ligado por seis míseros graus de separação[i].

Eu não sei de onde ele veio, mas em uma hora/dia qualquer começou a curtir as minhas fotos e observar tudo o que eu postava no meu Instagram. Fui ver quem era o cara bonitinho que me cercava e gostei do visual, então, após um dia de bebedeira com os vizinhos do meu prédio, tomei coragem e iniciei uma conversa.

Ele era dos EUA – não vou colocar de onde, exatamente, aqui. Trabalhava num laboratório, tocava guitarra em uma banda e gostava das mesmas coisas que eu: literatura, arte e música (das mesmas bandas, inclusive).

A conversa foi fluindo, e conversamos diversas vezes. Eu não levava o que ele dizia tão a sério, imaginava a possibilidade de ser um CATFISH[ii]. Entretanto não estava preocupada com suas intenções – só queria melhorar o meu inglês, encarei as conversas com o gringo como uma forma de fazê-lo.

Semanas foram passando e as mensagens chegavam cada vez mais empolgadas. Dizia que estava apaixonado por mim, que eu era maravilhosa e me fazia um monte de promessas, que eu deixava claro não acreditar.

Como boa professora, ensinava a ele coisas sobre o Brasil, e como boa curiosa, perguntava coisas sobre o seu país. Ao mesmo tempo, tentava buscar de onde o CATFISH roubava as imagens que dizia serem dele.

Uma bela noite, já cansada do papo mole: “I love U so much; I need you in my life; You are my queen; I want you forever in my life; I want to cover you with kisses; I need a hug of yours!”, decidi que descobriria qual era a dele, e enfim, o convidei para uma vídeo chamada.

Nem preciso falar que, mesmo topando na hora, ele não apareceu. Ficou a noite toda inventando mil desculpas para não entrar. E é óbvio que depois de quatro horas de espera eu desisti e fui dormir.

Só que a Dona Vida é uma coisa esplêndida e muito estranha. E a teoria dos seis graus de separação...Sei lá! Durante a madrugada tive um sonho esquisito – daqueles muitos que tenho às vezes. Nele, uma moça falava comigo pelo direct do Instagram. E só. O sonho se resumiu todo a isso. Acordei, eram duas horas da madrugada. Sensação esquisita, não consigo descrever. Voltando da cozinha, peguei o celular e entrei no Insta por impulso (quem é que entra no Insta no meio da madrugada, assim, do nada?), e uma moça havia mandado solicitação para me seguir. Eu aceitei e segui de volta. Por curiosidade fui ver quem era, e para a minha surpresa, ela era seguidora do R.C. Pensei: “Ela é o CATFISH?!”. E quem me dera se fosse. Minha consciência estaria bem leve agora.

Ao abrir as imagens postadas no perfil da J. (siiiim o nome também começa com J), me deparei com fotos dela e de um bebê. Uma garotinha linda, com mais ou menos os seus 4 meses de vida. Adoro bebês, continuei ali, observando a fofura daquela coisa mais gordinha, quando de repente uma simples foto em comemoração ao dia dos pais em 20/06/21 me espancou.

Era uma foto bem fofa, da garotinha vestindo um body colorido com os dizeres:” My first father's day with daddy”. Seria uma foto linda e inocente, se o daddy que segurava a menininha, não fosse o R.C. Continuei atenta às postagens e aí me deparei com um soco no estômago – uma bela foto de um casamento (ocorrido em 2019), outra, com a certidão de casamento de R.C. e J. Entre tantas outras imagens de família perfeita, comercial de margarina que a moça postava com legendas apaixonadas.

O mais assustador nisso tudo, é que ele realmente era quem dizia ser, morava onde revelou morar, o emprego, a banda. Era tudo verdade. Ele “só” não havia me contado que era um cara comprometido, e que a esposa dera à luz no início do ano. Meu estômago embrulhou. Não por mim, mas pela J.

                Quatro malditas horas antes da minha descoberta, aquele homem, o marido dela, dizia que estava apaixonado por mim, que queria construir uma vida comigo, e mesmo que eu não acreditasse em uma palavra do desgraçado, estava estraçalhada por dentro, não por mim, mas por ela.

                Fiquei indignada com o quanto aquela moça linda amava aquele cara, e enaltecia em suas fotos, e ele sequer a citava em suas postagens. Não havia uma foto dela nem da filha dos dois, ele agia como se as duas nunca tivessem existido na vida dele.

                Como alguém pode chegar a esse nível? Como pode magoar outra pessoa assim? Eu não consegui ficar quieta e fui falar com a J., na minha cabeça, ela deveria ter visto as conversas e de alguma forma me culpava por toda a situação. E o que estava péssimo, piorou. Ela não tinha a menor noção do acontecia em sua vida.  Seguíamos muitas páginas em comum, ela só me seguiu por seguir. Eu não comentava nas fotos dele, ela não sabia da minha existência.

                J. me pediu provas e eu entreguei todas. Expus a ela o quanto me sentia envergonhada pela situação, e ela pôde ver que antes de procurá-la, enviei uma mensagem com a foto do casamento dos dois – e que nela, eu xingava R.C. por estar fazendo aquilo tudo com sua família.

                A moça me respondeu num tom triste que percebera um comportamento diferente no marido, mas não imaginava que o motivo envolvia alguém que morava há quilômetros de distância. Eu me senti a pior pessoa do mundo. Só pude dizer à J. que ela era linda, e tinha uma filha igualmente linda, e ambas não mereciam ser tratadas da forma como foram. Que eu desejava tudo de melhor para a vida delas, do fundo do meu coração – e realmente desejo.

                Não consigo entender como R.C. teve coragem de fazer o que fez. Eu entendo que as pessoas possam deixar de gostar de alguém, ou a paixão tornar-se um grande sentimento fraterno. A chama pode apagar, eu entendo, aconteceu comigo. Porém, acho que quando isso acontece, a melhor coisa a se fazer é cada um ir para o seu canto. Foi exatamente isso que fiz. Preservei a amizade, e vou guardar os 16 anos maravilhosos que passei ao lado do meu ex na memória, sem me envergonhar, sem remorso, sem rancor.

                Pessoas que traem são incapazes de nutrir empatia pelo próprio parceiro. Não se colocam no lugar da pessoa com quem conviveram por anos. Isso é absurdo, cruel.

                Eu não sei se ela o perdoou. Eu não perdoaria. Dessa experiência, saí com um pouco menos de fé nas pessoas.



[i] https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-teoria-dos-seis-graus-de-separacao/

[ii] https://capricho.abril.com.br/comportamento/o-que-significa-catfish-e-como-ele-acontece/

quinta-feira, 8 de julho de 2021




 Estou tão cansada de tudo...

Não tenho muito a falar por esses dias, só um aumento da sensação de não pertencimento a este mundo!
Boa noite.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

 

Para o/a filho/filha que um dia vou ter:

Meu amor, tudo o que tenho vivido é por você. Desde que me entendo por gente, sinto que te amo, mesmo sem saber quando você chegará. Quando busco ser alguém melhor, é para que você tenha esse melhor na sua vida e possa perpetuar em nossas raízes tudo de bom que ainda irei lhe ensinar.

Nasci pra ser mãe, sinto isso desde sempre. Espero cuidar de você de uma forma que nunca cuidaram de mim. Que eu possa te amar, mas não ao ponto de não te corrigir quando precisar. Que eu possa te ensinar pelo exemplo, pois são essas as lições que ficam arraigadas na gente.

Seremos amigos, e você não será o meu espelho – isso eu não quero, você será um ser humano independente, terá suas próprias escolhas, suas opiniões, orientações – o que quero fazer é garantir que sejam responsáveis, honestas, justas e respeitosas, sejam quais forem. Eu te amo, mesmo antes da sua existência em minha vida, e é por você que busco, a cada dia, ser um pouco melhor – mesmo não sendo perfeita. (E me perdoe se eu falhar com você, juro que sempre farei de tudo para corrigir os meus erros e não acobertar os teus.)

E essa minha busca, um dia será também a sua. Mais pra frente a de meus netos, bisnetos e por aí vai. Iremos quebrar a corrente de sofrimento e desamor que têm sido a grande miséria dos que nos antecederam. Conosco nascerá uma nova linhagem, baseada no amor.

Com muito carinho.

Sua mãe.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

 

Então, eu cheguei até aqui...

Não sei bem como e nem por onde, mas aqui estou eu. Fico pensando no que me tornou a pessoa que sou hoje – todas as falhas, todas as conquistas, minhas forças, virtudes e medos.

Não acredito em predestinação, sou do time que entende que toda ação gera uma reação e assim a vida se constrói. No entanto, o que me levou a ser dessa forma? Por que será que reagi de “N” maneiras aos acontecimentos pelos quais passei?

Do que somos feitos? Como nos tornamos o que somos, mesmo sem querer ou agir para tanto? De que lugar saem nossa moral, ética e dogmas? O que é essa coisa, que chamamos de consciência e que nos molda?

A minha certeza é a de que não somos uma folha em branco (mil desculpas, Mr. John Locke), porque se assim fosse, eu não seria quem sou hoje.

Por hoje é só – a terapia me deixou pensativa e quero digerir esse tanto de dúvidas!


Who am I? Firewind (No meu caso, não sei, só sei que sou assim!)

quarta-feira, 14 de abril de 2021

 

PERDÃO, A CULPA NÃO FOI MINHA...

Quando criança aprendi que não deveria mentir, e sempre deveria assumir os meus erros, pois só é justo e corajoso quem “bate no peito”. Era uma fala semelhante à que muitos meninos crescem ouvindo: “Seja homem!”, mas com outras palavras.

Desde cedo, aprendi que era responsável pelo que os outros sentiam. Tive uma mãe extremamente narcisista, que ao menor sinal de descontentamento com algo que eu fazia / deixava de fazer, soltava a frase que mais impactou a minha infância: “Eu vou me atirar debaixo de um trem.”  (Você deve imaginar o pavor que tenho de trens. E hoje, moro bem ao lado da via férrea, escuto trens passando a cada meia hora.)

Essa semana, li um artigo de opinião maravilhoso no espaço Universa, do portal UOL. O título é: Por que nós, mulheres, estamos sempre pedindo desculpas? Muito bem escrito pela Daniela Cachich, que é sênior vice-presidente de marketing da PepsiCo Brasil Alimentos, e também porta-voz da campanha #megostosemdesculpas.

No texto, ela fala de maneira bem clara a respeito da coisa que mais me incomoda como pessoa: desculpar-se por uma culpa que não lhe pertence. Desculpar-se por ser quem é, como é. Preste atenção ao trecho a seguir, extraído do texto de Daniela:

“Somos ensinadas que não somos responsáveis só pelos nossos próprios sentimentos, mas também pelo dos outros. Meninas são ensinadas a respeitar mais o que as outras pessoas pensam do que seus próprios pensamentos ou sentimentos.”

E é exatamente isso. Cada palavra desse trecho é real. Ser mulher, aos poucos, torna-se um peso. Para quem tem o mínimo de empatia, viver com a culpa é devastador. O pior, é que ela, a culpa, anda de mãos dadas com a vergonha. Vergonha do que talvez tenhamos levado os outros a fazer, vergonha porque o outro sofreu com o seu NÃO, vergonha por existir e por aí vai.

A destruição emocional é tanta, que faço terapia para lidar com isso. Sim! Faço terapia para deixar de me culpar pela atitude alheia, para pensar no meu próprio bem-estar antes da vontade do outro. E isso é cruel. Precisar que alguém me diga que eu não sou responsável pelo poço em que o terceiro se atirou sozinho.

É preciso, com urgência, que a nossa sociedade pare com isso. Não se pode criar meninas que se tornarão mulheres culpadas, não podemos permitir que meninas cresçam atadas às bigornas psicológicas. Falo isso, porque é assim que me sinto.  

Precisamos criar mulheres fortes, que “batam no peito” e assumam apenas o que está sob o controle delas. E parar de criar meninos que entregam o rumo de suas vidas e sua felicidade na mão das mulheres.

Se a culpa é minha, não coloco em quem eu quiser; se é sua, não coloque nos outros!

 Link para o artigo, não deixem de ler

quarta-feira, 7 de abril de 2021

 

Quem sou eu? Aonde estou? Pra onde vou?

Não sei ao certo nenhuma das respostas para as questões acima, mas sigo buscando. As únicas respostas que tenho na vida são a respeito de quem eu não quero ser, aonde não quero estar e pra onde não quero ir. Eu não sei o que quero, porém o que NÃO quero está bem delineado na minha mente. Sei o que NÃO aceito na minha vida, sei o tipo de pessoa com o qual NÃO quero me envolver.

Decidir o que queremos é mais difícil do que decidir o que não queremos. Não sei se é graças ao instinto de autopreservação - mesmo assim, sou grata ao meu eu interior, que sempre tá aqui, mostrando que nem tudo vale o desgaste.

Na terapia de hoje, veio o questionamento sobre os prós e os contras das decisões que tomei ultimamente. Pude enxergar que mesmo sendo lançada à solidão, sentir o gosto da liberdade é maravilhoso. Estar preso a algo ou alguém é enlouquecedor. Eu escolhi a mim antes de qualquer coisa, e fiz a coisa certa.

Hoje consigo separar o que me faz bem do que quero por capricho. Ser independente de verdade é libertador. Posso planejar algo ou não, a escolha será sempre minha e só afetará a mim. Eu decido por mim, escolho como quero, faço da maneira que gosto. Pode parecer bobagem, só que priorizar-se é a melhor sensação que existe.

Aprenda uma coisa, gafanhoto: viva e deixe viver, seja feliz consigo mesmo, e não se envolva com quem não é feliz sozinho. Não deixe que os outros tornem-se dependentes de você e jamais seja dependente de outra pessoa.  

quarta-feira, 24 de março de 2021

I JUST DON'T KNOW WHAT TO DO WITH MYSELF

 

    Quarta-feira, 22:52hs... Estou azul, literalmente- fui arrumar a caixa da descarga e o desinfetante da ave que gosta de nadar em lagos caiu em mim.
    A casa, uma bagunça – como sempre. Eu limpo, a cachorra vai lá e suja. Aí o gato corre, sobe na mansão de gatos, começa uma confusão de gatos e cachorros – um rosna e o outro late, chora, esperneia.
    Ah! E tem a maldita dor, né? Levei um puta tombo no domingo, estava limpando um dos tapetes – todo cagado! Escorreguei e caí, igual a um pitoco de bosta. Na hora nem doeu, mas no outro dia... e hoje... que inferno de dor nas costelas! Dói tanto que chega a me dar ânsia de vômitp! Não posso tomar anti-inflamatório não hormonal sem supervisão médica, nem opioides... Paracetamol? Pra dor que estou sentindo, nem cócegas faz. Moro há dois quarteirões do hospital do plano de saúde, só que a coragem pra encarar um local cheio de doentes com COVID-19 é zero!
    Vai continuar doendo, até parar de doer! E vai doer menos que o vazio existencial que sinto.
    Ah, e teve o ovo de páscoa da discórdia... que terminou no vácuo eterno de uma mente tentando esquecer.
    A briga no grupo do condomínio – não sei quem perdeu a chave, tocou os interfones aleatoriamente no meio da madrugada (eu tomei um comprimido extra de quetiapina, nem vi/ouvi!), então começa o debate dos que não foram na assembleia contra os que sempre vão, porque os porteiros estão afastados e deveria ter um porteiro reserva que não durma na guarita e... Blé!!!!
    As intermináveis reuniões do trabalho que nunca decidem nada!
    Estou completamente no modo automático de sobrevivência. Lembrei que não como desde o almoço. Engulo um salgado qualquer, tomando aquele suco em pó vagabundo (e que eu amo!) sabor guaraná.
    Fumo um cigarro – que pra mim ainda é Free Light. Talvez eu durma na sala, não terminei de arrumar a descarga, então, hoje não vai rolar banho, e sujar meu colchão está fora de questão.
    Quando a minha cama chegar (aquela que comprei em janeiro!) vou chorar de alegria... Três malditos meses dormindo no chão... e essa semana com o lado esquerdo do tronco todo fodido!
    Impaciência, cansaço, dor, vazio, tristeza, dor, preocupação, desilusão – dor!
    No aguardo por um amanhã melhor. Se pelo menos eu tivesse a beleza e a conta bancária da Kate Moss...
Boa noite! (?)

 

A música do meu dia: I Just Don't Know What To do With Myself - The White Stripes