PERDÃO, A CULPA NÃO FOI MINHA...
Quando criança
aprendi que não deveria mentir, e sempre deveria assumir os meus erros, pois só
é justo e corajoso quem “bate no peito”. Era uma fala semelhante à que muitos
meninos crescem ouvindo: “Seja homem!”, mas com outras palavras.
Desde cedo,
aprendi que era responsável pelo que os outros sentiam. Tive uma mãe
extremamente narcisista, que ao menor sinal de descontentamento com algo que eu
fazia / deixava de fazer, soltava a frase que mais impactou a minha infância: “Eu
vou me atirar debaixo de um trem.” (Você
deve imaginar o pavor que tenho de trens. E hoje, moro bem ao lado da via
férrea, escuto trens passando a cada meia hora.)
Essa semana,
li um artigo de opinião maravilhoso no espaço Universa, do portal UOL. O título
é: Por que nós, mulheres, estamos sempre pedindo desculpas? Muito bem escrito pela
Daniela Cachich, que é sênior vice-presidente de marketing da PepsiCo Brasil Alimentos,
e também porta-voz da campanha #megostosemdesculpas.
No texto, ela
fala de maneira bem clara a respeito da coisa que mais me incomoda como pessoa:
desculpar-se por uma culpa que não lhe pertence. Desculpar-se por ser quem é,
como é. Preste atenção ao trecho a seguir, extraído do texto de Daniela:
“Somos ensinadas que não somos
responsáveis só pelos nossos próprios sentimentos, mas também pelo dos outros.
Meninas são ensinadas a respeitar mais o que as outras pessoas pensam do que
seus próprios pensamentos ou sentimentos.”
E é exatamente
isso. Cada palavra desse trecho é real. Ser mulher, aos poucos, torna-se um
peso. Para quem tem o mínimo de empatia, viver com a culpa é devastador. O
pior, é que ela, a culpa, anda de mãos dadas com a vergonha. Vergonha do que talvez
tenhamos levado os outros a fazer, vergonha porque o outro sofreu com o seu
NÃO, vergonha por existir e por aí vai.
A destruição emocional
é tanta, que faço terapia para lidar com isso. Sim! Faço terapia para deixar de
me culpar pela atitude alheia, para pensar no meu próprio bem-estar antes da
vontade do outro. E isso é cruel. Precisar que alguém me diga que eu não sou
responsável pelo poço em que o terceiro se atirou sozinho.
É preciso, com
urgência, que a nossa sociedade pare com isso. Não se pode criar meninas que se
tornarão mulheres culpadas, não podemos permitir que meninas cresçam atadas às
bigornas psicológicas. Falo isso, porque é assim que me sinto.
Precisamos
criar mulheres fortes, que “batam no peito” e assumam apenas o que está sob o
controle delas. E parar de criar meninos que entregam o rumo de suas vidas e
sua felicidade na mão das mulheres.
Se a culpa é
minha, não coloco em quem eu quiser; se é sua, não coloque nos outros!
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