quarta-feira, 14 de abril de 2021

 

PERDÃO, A CULPA NÃO FOI MINHA...

Quando criança aprendi que não deveria mentir, e sempre deveria assumir os meus erros, pois só é justo e corajoso quem “bate no peito”. Era uma fala semelhante à que muitos meninos crescem ouvindo: “Seja homem!”, mas com outras palavras.

Desde cedo, aprendi que era responsável pelo que os outros sentiam. Tive uma mãe extremamente narcisista, que ao menor sinal de descontentamento com algo que eu fazia / deixava de fazer, soltava a frase que mais impactou a minha infância: “Eu vou me atirar debaixo de um trem.”  (Você deve imaginar o pavor que tenho de trens. E hoje, moro bem ao lado da via férrea, escuto trens passando a cada meia hora.)

Essa semana, li um artigo de opinião maravilhoso no espaço Universa, do portal UOL. O título é: Por que nós, mulheres, estamos sempre pedindo desculpas? Muito bem escrito pela Daniela Cachich, que é sênior vice-presidente de marketing da PepsiCo Brasil Alimentos, e também porta-voz da campanha #megostosemdesculpas.

No texto, ela fala de maneira bem clara a respeito da coisa que mais me incomoda como pessoa: desculpar-se por uma culpa que não lhe pertence. Desculpar-se por ser quem é, como é. Preste atenção ao trecho a seguir, extraído do texto de Daniela:

“Somos ensinadas que não somos responsáveis só pelos nossos próprios sentimentos, mas também pelo dos outros. Meninas são ensinadas a respeitar mais o que as outras pessoas pensam do que seus próprios pensamentos ou sentimentos.”

E é exatamente isso. Cada palavra desse trecho é real. Ser mulher, aos poucos, torna-se um peso. Para quem tem o mínimo de empatia, viver com a culpa é devastador. O pior, é que ela, a culpa, anda de mãos dadas com a vergonha. Vergonha do que talvez tenhamos levado os outros a fazer, vergonha porque o outro sofreu com o seu NÃO, vergonha por existir e por aí vai.

A destruição emocional é tanta, que faço terapia para lidar com isso. Sim! Faço terapia para deixar de me culpar pela atitude alheia, para pensar no meu próprio bem-estar antes da vontade do outro. E isso é cruel. Precisar que alguém me diga que eu não sou responsável pelo poço em que o terceiro se atirou sozinho.

É preciso, com urgência, que a nossa sociedade pare com isso. Não se pode criar meninas que se tornarão mulheres culpadas, não podemos permitir que meninas cresçam atadas às bigornas psicológicas. Falo isso, porque é assim que me sinto.  

Precisamos criar mulheres fortes, que “batam no peito” e assumam apenas o que está sob o controle delas. E parar de criar meninos que entregam o rumo de suas vidas e sua felicidade na mão das mulheres.

Se a culpa é minha, não coloco em quem eu quiser; se é sua, não coloque nos outros!

 Link para o artigo, não deixem de ler

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